por: Urbano Marino
Vou contar devagarinho
E dum jeito rebuscado
A história dum menino
Que tava desenganado
Com uma vela na mão
Já cama arriado
O povo na vizinhança
Tinha desacorçoado
Um padre de Juazeiro
Que é cidade ao lado
A alma do pobrezinho
Tinha já encomendado
Era quase sol a pino
De onze horas passava
Moscas sobre o menino
Carcará sobrevoava
Tentando sentir o cheiro
Que ainda não exalava
No leito jaz o menino
Olho era só remela
O tempo se foi passando
Fogo comendo a vela
O breu lhe queimou a palma
A cera no couro péla
Com a dor da queimadura
Rolou da cama pro chão
Limpou o olho com cuspe
E saiu num tropeção
O bucho roncou de fome
Chegou perto do fogão
A mãe correu em socorro
Povo se aglomerou
Fez-se grande alvoroço
E uma velha gritou:
“Milagre de Padre Ciço,
o Quinco ressuscitou!”
Fizeram fila na porta
Só pra ver o ressurreto
Curar as muitas mazelas
Ter um contato direto
Para tocar seu cabelo
Ao menos olhar de perto
E foi assim por uns dias
Até que arrefeceu
Um outro fato estranho
No Crato aconteceu
E o destemido Quinco
Forte e bonito cresceu.
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